«Mas que bela máquina era aquele Volkswagen.(…) Não era o Ferrari de sonho, não tinha o luxo de um Mercedes nem sequer a energia dos Bmw, mas para nós, era o melhor do mundo. De certeza.»
Mas que bela máquina era aquele Volkswagen! Eu pelo menos achava-o, talvez fosse por ser o nosso e quando é assim parece sempre mais bonito, mas desde o primeiro dia que o vi na estrada, encheu-se-me a esperança. Não era o Ferrari de sonho, não tinha o luxo de um Mercedes nem sequer a energia dos Bmw, mas era o possÃvel, e para nós, era o melhor do mundo. De certeza.
Olhar para trás lembra-me as alegrias que aquele carro nos deu. A viagem de Alvalade, as demonstrações de condução nas voltas cá de Coimbra e aquele devorar de asfalto pelo Porto em que não fosse um momento ou outro em que pareceu que a estrada parecia ter óleo ou uma estranha falta de tracção e podÃamos ter feito um brilharete com o nosso Volkswagen, mesmo em casos como o desse dia, onde nos batÃamos contra um Bávaro M3 que custa para cima de um balúrdio.
«Foi essa a nossa magia, de nos imaginarmos como se estivéssemos sentados no banco de pele do Maseratti e à velocidade do Bugatti mas sabÃamos que na verdade, aquilo era Napa e a velocidade era fantasia do ruÃdo que fazia o motor. »
Foi essa a nossa magia, de nos imaginarmos como se estivéssemos sentados no banco de pele do Maseratti e à velocidade do Bugatti mas sabÃamos que na verdade, aquilo era Napa e a velocidade era fantasia do ruÃdo que fazia o motor que na altura Ãa já nas rotações mais altas que podia aguentar. O nosso Volkswagen, que a certa altura fintou aquele Jaguar verde com risca branca (que sim, Ãa já a entrar em despiste mas não deixa de ser um Jaguar) e que não se batia com Ferraris mas nos fez acreditar demasiado que se podia meter entre BMWâs, Mercedes e Audiâs (mesmo tendo partido com 7â de penalização imagine-se).
Um dia terÃamos de dar conta. Um acidente grave, rebentar o motor, o piloto desistir, o que fosse. Havia o perigo de qualquer coisa nos querer trazer de volta. Nada de tão grave, foi simples: numa curva importante, furou-se um pneu, só um pneu, nada mais. O motor está intacto, o piloto continua concentradÃssimo e⦠só deixámos escapar o âA5â que Ãa à nossa frente. Só.
Para o substituir obrigaram-nos a sair do carro, e o problema foi esse. Tivemos de olhar bem para ele e reparar nas amolgadelas pouco disfarçadas, nos pneus que eram de uma desconhecida marca tailandesa mas que se estavam a bater até ali com os Michelin de corrida dos outros, na suspensão que começava a dar de si.
Alguém não perdeu tempo e esqueceu a magia. Enquanto batia com as portas e pontapeava as jantes gritava: âVão à m****! Eu vou a pé! Nunca mais conseguimos apanhar a porcaria dos BMW com isto, é sempre a mesma coisa, isto está bom para correr com os FIAT!â (sem desprimor, até porque todos os dias pego num).
E tivemos de voltar a entrar no carro. Afinal aquilo era mesmo napa e não pele… e a cada âtoc, tocâ no tablier ouvia-se o som esbatido que distingue os Volkswagen dos Porscheâs que eu conduzo também todos os diasâ¦depois de adormecer.
«Não vale é bater mais com as portas e nos pneus, o carro para o ano é o mesmo e ainda tem de acabar esta viagem. Talvez consigamos na próxima já ter daqueles pneus que não se furam»
Mas só resta voltar a entrar e acreditar na magia. Ou então mudar de marca. Não vale é bater mais com as portas e nos pneus, o carro para o ano é o mesmo e ainda tem de acabar esta viagem. Talvez consigamos na próxima já ter daqueles pneus que não se furam, talvez uma revisão no motor o faça mais rápido nas rectas e haja um mecânico que com pouco dinheiro componha aquela suspensão.
E enquanto não começarem a cair carros do céu, a ilusão continua, afinal, é isso que nos distingue. Ninguém nos oferece um Ferrari, mas também não precisávamos. O nosso Volkswagen é tão bom como esses, é o melhor do mundo. De certeza!